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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
"Não quero viver como uma planta que engasga e não diz a sua flor. Como um pássaro que mantém os pés atados a um visgo imaginário. Como um texto que tece centenas de parágrafos sem dar o recado pretendido. Que eu saiba fazer os meus sonhos frutificarem a sua música. Que eu não me especialize em desculpas que me desviem dos meus prazeres. Que eu consiga derreter as grades de cera que me afastam da minha vontade. Que a cada manhã, ao acordar, eu desperte um pouco mais para o que verdadeiramente me interessa."
Ana Jácomo
“Bastou um sopro de um emplastro poderosíssimo. Dizem que ressuscita até mortos. Principalmente os corações cansados de bater sem serem ouvidos. Sara hoje. Sara agora. Eu te ordeno. E que te levantes do túmulo. Ele me deu a mão. E o pó de pirlimpimpim. Estou brilhando que nem purpurina. Agora ninguém vai saber que estou machucada por dentro.”
Pipa
“Você virá e eu esquecerei de todas as palavras que decorei para essa hora. Você virá e eu sofrerei um terremoto.
Você virá e eu não quero nenhuma outra promessa, eu só quero tua presença, acordar e ver o lençol desarrumado do outro lado da cama. Você virá e aumentaremos a lista de nomes de filmes.
Espero e é para isso que tenho dedicado parte da vida. Espero, até aqui é tudo que tenho para contar.
Te espero sempre, sempre, sempre.”
Cáh Morandi
“Te agradeço a paciência e o tempo dedicado. Estivestes presente de acordo com tua disponibilidade e foi presença sincera e suficiente. Agradeço também, porque é igualmente importante, todo o riso provocado, amostra de uma inteligência assombrosa compartilhada a dois, tão pouca plateia para tamanho talento. Obrigada pelo teu não egoísmo, pelo verbo no gerúndio, nada em nós no particípio, tudo sendo construído. Agradeço por teres surgido em formato padronizado sem valores catados na rua e adotados como se fossem próprios. Teu jeito singular de pensar e lidar com o imprevisto fez toda a diferença. Obrigada por proporcionares a solidão necessária. Um dia há de ser descoberto o segredo desta nossa união. Agradeço a tolerância, a gentileza e o mistério principalmente o mistério, que até hoje não decifro nem devo, nem quero, é dele o mérito de ter nos tornado eternos.”
Martha Madeiros
“Enfrentei a saudade, contive o ímpeto da falta. Confesso que a imobilidade doeu mais do que um movimento abrupto. Se realizasse o ato banal, vestiria novamente os fantasmas. A casa não era mais minha. Os hábitos não eram mais meus. Não tinha mais obrigação com o passado. Sequei o rosto com os próprios punhos.”
Fabrício Carpinejar
"Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Hipocondríaca. Raivosa, quando sinto-me atacada. Não como cebola. Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações. Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho."
Fernanda Young
“Não sou, nunca fui e não quero ser santa. Me recuso, entretanto, a fazer parte do mal, independente do que mal seja. Vou continuar falando palavrão, me apaixonado e enchendo a casa de corações de papel, maltratando minha mãe às vezes e depois me sentindo escrota e injusta, ainda vou fazer muitos amigos errados, vou viajar quilômetros por amor aos meus irmãos, aos meus amores. Vou ser assim porque, na verdade, eu já sou tudo isso. Tá tudo errado e tá tudo certo. Tá tudo mudando e tá tudo bem. No final da vida, como eu já disse outras vezes, quero ter um colar de pérolas minhas pra mostrar pros meus netos e, olha só, às vezes eu quero tê-los (os netos), outras não. Daqui há pouco tudo muda, mas eu ainda vou querer estar com você porque, é fato, você me mudou.”
Rani Ghazzaoui
“Eu não sei por que a amo. Cada vez mais não sei.
Pode ser pelo seu pescoço que se levanta para ganhar altura quando estamos abraçados. Ou será que é pela forma em que dobra as pernas no sofá? Ou quando se contorce em espiral com beijos nas costas? Eu não sei por que a amo. Será que pela sua preguiça, que se enrola em mim de manhãzinha? Ou pela sua disposição de dar a volta por cima? Eu já parei para pensar por que a amo, mas lamento, não sei. Realmente não sei. Talvez seja pelas sobrancelhas que falam antes dos olhos. Ou pelo umbigo que inicia a mão. Ou pelo copo que você balança antes de beber, para convencer a água a partir?
Tantos homens têm um motivo certo para amar, definido como um emprego, e você foi escolher logo um que nada tem a dizer.
Será que é pelo amor aos filhos, excessivo, que sempre me inclui? Ou pela sua vontade de fazer mercado depois do almoço para gastar menos? Será que é pelo modo como canta, o modo como dança, com os braços acenando em linhas sinuosas como fumaça de chá? Será que é pelo toque em meu joelho enquanto dirijo? Pela sua respiração suspensa na penumbra? Ou pelas nossas saídas de madrugada para encontrar sorvete em botecos? Será que me apaixonei pelo seu texto e quis ser seu personagem? Ou pela sua pressa de avisar que chegou, apertando o interfone mesmo com as chaves? Ou quando diz que está com frio no cinema? Ou quando fica muda querendo voltar ou quando fica ruidosa querendo passear? Ou quando pede que eu fique em casa mordendo o lábio de cima? Ou quando me enfrenta com raiva e me diz todas as verdades sem ao menos pedir para sentar? Ou quando sopra os machucados, de quem herdou o costume de soprar machucados mesmo quando não existem? Ou quando fica bêbada e declara que está bêbada para eu me aproveitar? Será que é pelo sua predileção em comprar presentes, sempre dando mais do que recebendo? Ou pela tapeçaria no fundo de suas bolsas, com notas, moedas, chicletes, batons e brincos avulsos? Será que a amo por que me irrita a viver mais? Será que a amo por que não me deixa a sós comigo?
Eu juro que não sei por que a amo. Todo dia você se acorda querendo ouvir, eu pressinto, debruçada em meus ombros à espera do sinal, do cartão, das flores, da segunda aliança que é um par de palavras. Mas não descobri e não finjo. Entenderá que faltam motivos, só que sobram motivos. E dificulta-me pensar que se ama por motivos. Ama-se por insinuações.
Será que é pelo seu medo de sangue? Pela sua infância vesga? Pelos seus joelhos esfolados nos móveis? Pela seus amores frustrados? Pela sua letra arredondada nas vogais? Pela sua insatisfação com as roupas na hora de sair? Pela ânsia em atender o telefone com a esperança de que seja eu a dizer por que a amo?
Eu não sei por que a amo. Não me fale. Quem sabe deixo de amar.”
Fabrício Carpinejar
“Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido. Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram.”
Caio F. Abreu
"Sei que fui ausente. Me desculpe. Peço-lhe, agora (se é que estou em condições de pedir algo), não que aceite, mas que perdoe tal ausência minha. E que, quando ler isto aqui, saiba que estou lhe falando a verdade, apenas não sei demonstrar meu amor. Não demonstrar é diferente de não sentir. E eu sinto tanta coisa... Tanta coisa..."
Douglas Thayanã
“Para as coisas que existem sem remédio, sem solução que te tragam tédio, desespero, frustração, há outras mil coisas que são bonitas que são doces que são felizes. E se você não achar nada de bom ou de maior você cria alguma, coisa qualquer coisa boa que não existe. E se você botar fé nisso essa coisa vai começar a existir mesmo que ninguém veja, mesmo que só você acredite.”
Cáh Morandi
“Ela era doce, meiga. Ele a admirava.
Ela chorava. Ele suspirava.
Ela tinha disciplina e ele obsessão.
Ela sonhava e ele desacreditava.
Ela queria entender. Ele não entendia.
Ela argumentava o problema e ele criticava o argumento.
Ela temia a ausência dele, ele temia precisar dela.
Ela queria se perder com ele, ele queria se encontrar com ela.
Ela acordava pensando nele, ele dormia pensando nela.
O que ela sentia era imutável. O que ele sentia era renovável.
Por nada ela surtava, por tudo ele se calava.
O olhar dela tinha declarações, o olhar dele segundas intenções.
Se ela o desejava era drama, se ele a desejava era cama.
E conviviam das diferenças. Eram do jeito deles.
Únicos. Indecifráveis.”
Michele S.B.
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