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segunda-feira, 24 de maio de 2010



"Às vezes cansa, sim, mas combinamos não desistir da força que verdadeiramente nos move."

Ana Jácomo


"Doía. Doía muito ter um amor nascendo por dentro de mim, me remoendo a carne, me sugando o sangue, me alucinando a mente. Os amores antes de chegar, deviam me enviar cartas avisando com antecedência sua visita em minha vida, ou então um telefonema com ligação a cobrar, ou sinais de fumaça, ou pombos com recados, ou garrafas jogadas no mar. Mas que desse um jeito de me comunicar de sua dolorosa chegada, para que antes eu preparasse o terreno, tá entendendo? É, arrumasse a casa aonde moro e a casa aonde moram meus sentimentos, dispensasse outras possíveis visitas, orasse pedindo sol e calmaria por todos esses dias que o amor ficasse, tirasse o pó acumulado sobre as esperanças, me prevenisse dessas dores de parto. Sim, dores de parto, parto duplo: uma nova vida chegando e já com alguma pretensão de logo partir.

Na minha vida os amores nunca duraram mais do que duas ou três estações, um vestido novo, e alguns não passaram do primeiro jantar ou da primeira noite. Sei lá, se apaixonar é sempre um risco e eu tenho medo.

Nem sempre quis que desse certo uns relacionamentos, eram fracos, não me estremeceram, não me penetraram. Outros de tão grandiosos me assustaram, então eu pulava fora do barco, afinal era felicidade em demasia o que aquela outra pessoa me propunha. Sabe, eu não tinha tanta coisa assim para retribuir, meu poço era raso demais para a pessoa mergulhar de cabeça, e na verdade ela era é um poço muito fundo e denso, e eu nunca soube nadar. Alguns foram amenos e doces, me surpreendiam com seus atos de amor platônico, eram surreais, eram os mais perigosos, pois não tinham um laço com o real, foram eles que me deram a loucura de poder sonhar e de acreditar nas coisas mais impossíveis, e esse negócio do improvável era o que mais me atraía. Esses eu queria, alguns levei para casa, cuidei, reguei, abracei para dormir, fiz poemas, tatuagens, fiz lista com nomes de filhos. Mas um dia, quando menos se espera, a realidade toca a campainha e invade os cômodos de um amor idealizado e tudo termina. Esses são os amores que mais doem e os que eu mais me entrego.

Na verdade tem muita gente por aí pensando que amores para existirem, dependem antes de uma estabilidade financeira, bom, pode ser, para alguns sim. Eu prefiro os amores que dependem antes e depois do companheirismo, da cumplicidade, do abraço, do beijo, do querer bem, das mãos dadas. As pessoas têm todo direito de escolher a forma mais sensata de ficarem ricos. Eu prefiro os pequenos milagres, prefiro começar por dentro, pelo gesto de carinho que para mim é indispensável.

Por isso o amor dói, e me refiro ao verdadeiro amor. Não falo dos capitalistas, dos materialistas, dos “dinheiristas”. Falo dos amores que antecedem qualquer ato de possuir ou não, os amores pobrezinhos, os amores idealistas e sonhadores. O amor dói, mas dói naqueles que são capazes por aceitar o amor como essa coisa tão simples e imprescindível. Agradeço por essa dor permanente de amar, de me ultrapassar: o amor antes de ser um sentimento, é um ato de coragem..."


Cáh Morandi


"Só pode ser inveja! Ser jovem e bonita me prejudicou muito. Já tive vontade de avisar: 'Sosseguem, a beleza passa e eu também vou ficar velha.'"


Fernanda Young


"O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa."


Martha Medeiros


"Tempos de definição são difíceis. Exigem de nós energia que por vezes não temos - não é todo dia que queremos lutar contra sentimentos díspares, complicados; que desejamos nos perguntar se realmente o amor acabou, se o que sobrou foi só carinho e preocupação ou se ainda existe um resquício mínimo que guarda em si a possibilidade do renascimento. Não é todo dia que temos fôlego para questionar o que fizemos de nossa vida até aqui e qual o rumo que realmente queremos dar a ela. Cansa. Exaure.


Separar-se de alguém que se amou demais é experienciar uma cisão que muda toda uma maneira de ver o mundo: lá se vai a crença de um amor que resiste a tudo e fica um gosto estranho de fracasso, como se as emoções, e as pessoas, pudessem ser avaliadas em termos tão maniqueístas. Separar-se de alguém que se amou demais é, antes de mais nada, triste. Mas tristezas, por mais fundas que sejam, passam. Desde que não as alimentemos.


A forma mais comum de alimentá-las é insistir em um contato nocivo por nos trazer alento, um tanto duvidoso, mas um alento: a voz conhecida, as palavras um dia tão queridas, o choro que sabemos como estancar, a risada que nos lembra dias mais ensolarados (nos sentimos mais acolhidos com a segurança do passado conhecido, com todos os seus problemas, do que com o vislumbre do futuro). Alimentá-la é achar que isso pode, em algum nível, fazer bem para algum dos dois. É como manter vivo um paciente com falência cerebral na esperança de que um milagre o faça acordar sorrindo, inteiro. Dói todos os dias em que isso não acontece. E dói mais ainda quando, finalmente, ele morre - mas, então, pelo menos, todos estão livres para seguir a vida.


A verdade é que enquanto não decidimos se acabou ou não, se queremos aquela relação de volta (com todas as idiossincrasias, neuroses e desgastes que nos fizeram partir) ou se ela faz parte do panteão do passado, nada anda. Atolamos. Ninguém novo pode entrar, arejar os dias. Nem sozinho ficamos bem. Só o vulto constante da tristeza nos acompanha, mesmo nas horas mais alegres - ela sabe que, a qualquer momento, a guarda baixará e ela terá espaço suficiente pra se instalar.


Enquanto não deixamos o passado para trás, não há futuro."




Ailin Aleixo

Traquinagem by Sayo




"Sem tempo para compreenderem. Abraçaram-se fortemente..."


Caio F. Abreu