"Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis.
Remexo o cérebro e ela vêm, não rara, mas toneladas. Deixam sempre um gosto de poeira na boca — a poeira do que eu tentava expressar, e elas dessolveram.
Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia, mais essa idéia resiste a ser identificada. As sucessivas roupas sufocam a sua nudez. E todas as palavras são uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio.
Ah, se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos, com os cabelos — com todos esses arrepios estranhos que um entardecer de outono, como o de hoje, provoca na gente."
Caio F. Abreu
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